quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Arrependimento na Bíblia


Quando se fala sobre arrependimento, logo se lembra de uma criança desobedecendo os pais. Esta criança pede desculpas, aparentemente arrependida, porém, geralmente, volta a cometer este mesmo erro. Por vezes os pais disciplinam os filhos sobre o mesmo assunto durante vários anos, pois a criança volta a cometer os mesmo erros. Aqui surge uma pergunta: o que é arrepender-se?
Olhando para a história bíblica, existem inúmeros exemplos de arrependimento, onde os personagens voltaram a causar o mesmo ato de antes. Isso não significa uma mudança imediata, mas sim um ato de entrega a Deus. A atitude, onde o próprio Espírito Santo toca o coração é o arrependimento. Neste ato Deus está revelando ao ser humano este estar fora dos propósitos divinos, necessitando mudar seu direcionamento para Deus. O ato em si é quando se recebe a Jesus Cristo como único e suficiente salvador. Neste momento há uma genuína mudança.
Quando ocorre esta transformação, não significa uma mudança de atitude, porém o reconhecimento da soberania de Deus, aonde o ser reconhece seu papel como adorador diante do Senhor de toda criação. Para compreendermos melhor, Hoekema explica melhor o significado do grego da palavra arrependimento.

As palavras para arrependimento no Antigo Testamento são nicham e shūbh. Nicham, a forma nifal de nācham, significa estar sentido, ser movido à piedade ou arrepender-se de erros. É frequentemente usada a respeito de Deus para falar de uma mudança ou possível mudança nos seus planos: Gênesis 6.6-7; Êxodo 32.12, 14; Deuteronômio 32.36; Juízes 2.18. Essa palavra é também usada para descrever a tristeza pelo pecado em seres humanos: Juízes 21.6, 15; Jó 42.6; Jeremias 8.6; 31.19. A passagem de Jó ilustra esse segundo uso: 'Por isso me abomino, e me arrependo no pé e na cinza'.'1

Com esta explicação fica um pouco mais claro para entender melhor sobre esta palavra, contudo ainda o autor deste prossegue detalhando um pouco melhor:
Muito mais comum, porém, no Antigo Testamento, é a palavra shūbh. Essa palavra significa voltar atrás, ir na direção oposta. Isso realça o fato de que arrependimento significa uma mudança de direção, do caminho errado para o caminho certo. Significa abandonar o pecado (1Rs 8.350, a iniquidade (Jó 36.10), a maldade e os maus caminhos (Ne9.35). Positivamente, shūbh significa voltar-se para Deus: Salmo 51.13; Isaías 10.21; Jeremias 4.1; Oseias 14.1; Amós 4.8; Malaquias 3.7. A segunda parte deste último verso diz: 'Tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós outros, diz o senhor dos Exércitos'.”2

Nesta explicação, o entendimento do significado de arrependimento fica totalmente claro, podendo ser compreendido corretamente este conteúdo.
Para ficar ainda mais claro: Imagine o percurso de uma rodovia, onde se vai de uma cidade a outra. Um percurso longo, onde se tem um destino para ser trilhado, contudo a pessoa caminha nesta direção com um propósito pessoal, para atingir um determinado objetivo. Quando o Espírito de Deus convence, este caminho passa a não fazer sentido mais, pois este direcionamento convém apenas para um desejo pessoal. O plano de Deus passa a abrir os horizontes, mostrando um novo caminho a ser seguido. Este novo percurso é certamente adorar a Deus. Porém Deus convida o novo convertido a estar incluído nesta missão, de levar a Palavra de Deus para quem ainda nunca ouviu falar da Verdade.
Ao haver o arrependimento, ocorre uma grande mudança. Geralmente quando as pessoas oram, pedem de acordo com suas idealizações pessoais, contudo quando o arrependido ora muda seu teor; pedindo porém após orar declarando a soberania de Deus dizendo: “seja feita a Tua vontade”. Esta diferença coloca o controle aonde deve estar; nas mãos divinas.
Como foi visto nesta parte do trabalho, o arrependimento gera uma mudança de mentalidade e não necessariamente de imediata atitude. Com o passar do tempo haverão mudanças em atitudes, porém o arrependimento mostra o quão pequeno é o ser humano e o quanto Deus está no controle de todas as coisas. Arrepender-se é justamente declarar de corpo, alma e espírito a soberania de Deus, colocando-se a disposição em realizar a vontade divina ao invés do próprio caminho.


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1HOEKEMA, Anthony A. Salvos pela Graça: a doutrina bíblica da salvação. 3ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. pág 127.
2HOEKEMA, Anthony A. Salvos pela Graça: a doutrina bíblica da salvação. 3ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. pág 128.

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